"Socialismo e liberdade"

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"Proletários de todos os países, uni-vos!" (Karl Marx e Friedrich Engels; Manifesto do Partido Comunista)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma nova crítica teológica para um novo tempo

Uma nova crítica teológica para um novo tempo
Jung Mo Sung *

De uma forma ou de outra, setores - muitas vezes minoritários - das Igrejas cristãs sempre expressaram críticas às situações econômicas e sociais injustos e opressivos. Geralmente essas críticas eram feitas a partir dos valores éticos e teológicos ou em nome de algum texto ou ensinamento bíblico.

A grande novidade da Teologia da Libertação não foi, portanto, as críticas sociais em nome da fé cristã, mas sim a crítica às estruturas sociais que geravam as situações de injustiça social e dominação. Isto é, a TL foi para além das críticas às situações concretas e mostrou que essas situações não eram resultados somente de problemas éticos individuais ou de grupos, mas da própria lógica de funcionamento das estruturas econômicas, sociais e políticas.

No final dos anos 1960 e na década de 70, a TL dialogou com a teoria da dependência de inspiração marxista para explicar e criticar a situação social opressiva que predominava na AL e elaborou a noção de pecado social, que depois evoluiu para a noção de pecado estrutural. A partir da década de 80, a teoria da dependência entrou em profunda crise, ao mesmo tempo em que se fortalecia no cenário internacional a ideologia neoliberal, com as eleições de Margaret Tatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos da América. Diante desta nova configuração do capitalismo internacional, os discursos teológicos críticos elaborados em diálogo com a teoria da dependência foram perdendo significado e sua força crítica e operacional. Apesar disso, muitos teólogos/as e grupos e pastorais cristãos continuarão reproduzindo estes discursos, já meio ultrapassados, até como uma forma de manter a identidade de opositores ou de "revolucionários" desses grupos.


No final da década de 1980, o livro "A idolatria do mercado" (de Hugo Assmann e Franz Hinkelammert), entre outros, deu um novo impulso ao discurso teológico crítico ao desvendar o caráter idolátrico de um sistema que procurava absolutizar o sistema de mercado. Assim, nas duas últimas décadas a maior parte das críticas teológicas ou éticas cristãs ao capitalismo foi centrada na luta contra um sistema que pretendia impor a todo mundo e a todos os setores da vida humana e social a lógica e as leis do mercado. Uma proposta que Hinkelammert chamou de "a utopia de mercado total".

Com a crise do mercado financeiro internacional e a ameaça de recessão na economia global, os ideólogos do neoliberalismo estão perdendo os espaços de poder e sendo substituídos por defensores de um novo tipo de keynesianismo. Isto é, a ideologia do mercado livre está sendo substituída pelas propostas de regulação e da intervenção do Estado na economia de mercado em escala global.

Contudo, isso não significa o fim do capitalismo, pois esse existia antes do neoliberalismo e vai sobreviver à derrocada do neoliberalismo. O desafio para o cristianismo de libertação é não voltar a uma situação em que as críticas sociais em nome da fé eram feitas somente sobre situações concretas, perdendo de vista as lógicas e estruturas que as causam; ou então às críticas feitas a partir de fora da realidade econômico-social, em nome somente de valores éticos ou teológicos (não importa se são tradicionais, "pós-modernos" ou algum outro tipo), sem uma articulação crítica e dialética com teorias sociais. É claro que também não podemos simplesmente continuar repetindo as críticas elaboradas nos anos 1980 e 90.

Estamos diante de um importante desafio: analisar criticamente as novas propostas econômicas e ideologias que estão sendo gestados neste momento e elaborar uma reflexão teológica crítica que seja ao mesmo tempo teologicamente consistente e socialmente relevante.

As reflexões críticas à idolatria do mercado foram construídas principalmente em torno da "Escola do DEI", uma escola de pensamento que se formou em torno do Departamento Ecumênico de Investigações, de Costa Rica, e de seus inúmeros seminários e congressos reunindo cientistas sociais, filósofos e teólogos/as. Uma teoria crítica não é produto somente da mente brilhante de um indivíduo, mas de um trabalho coletivo. Isto significa que precisamos urgentemente de redes e centros catalisadores capazes de promover diálogos e trabalhos interdisciplinares visando construir uma teologia crítica para fazer frente à nova forma de dominação capitalista que está sendo gestada.

*Jung Mo Sung é professor. Autor de "Cristianismo de Libertação: espiritualidade e luta social", Ed. Paulus.

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