"Socialismo e liberdade"

"Socialismo e liberdade"
"Proletários de todos os países, uni-vos!" (Karl Marx e Friedrich Engels; Manifesto do Partido Comunista)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O sectarismo trotskista

Os trotskistas acreditam que a revolução socialista é iminente, só não aconteceu devido ao que chamam de "crise de direção do movimento operário", que seria provocada pela "traição das direções operárias", nas mãos de stalinistas e social democratas. Será que é verdade ou os trotskistas não conseguem compreender o problema da luta de classes no século XXI???

Pois bem, comecemos a responder essa pergunta pela constatação de um fato: os trotskistas são extremamente sectários, vivem brigando entre si, o que resulta em rachas e no surgimento de "seitas" cada vez mais extremistas(PCO, LER, MNN, etc), que usando palavras de ordem descoladas da realidade, conseguem apenas promover tumultos nas manifestações populares dos quais participam. Se não bastasse isso, os trotskistas do PSTU dirigem inúmeros sindicatos e entidades estudantis, possuindo inclusive a sua própria central sindical(a Conlutas), mas não conseguem promover grandes mobilizações e muito menos mobilizações de caráter revolucionário. E mais, as correntes trotskistas do PSOL também dirigem ou participam da direção de entidades sindicais e estudantis, e também não mobilizam coisa alguma. Percebemos então que existe uma crise sim, mas no próprio movimento trotskista, que é sectário e inconsequente, promovendo um extremismo estéril.

Nenhuma revolução foi realizada por trotskistas, até porque mesmo na Europa, o sectarismo deles os leva a jogar no gueto os movimentos que dirigem. Na França, o Partido Operário Independente e a Luta Operária são inimigos declarados, assim como o PCO e o PSTU aqui. E se recusam a fazer alianças com o Novo Partido Anticapitalista, que também é trotskista, mas aderente ao Secretariado Unificado da IV Internacional, que segundo eles é "revisionista" e "centrista pequeno-burguês". Então cadê a tal "crise de direção operária"???

Não existe nenhuma "crise de direção do movimento operário", muito menos os stalinistas e os social democratas(ou aqueles que os "troskos" assim os chamam) são traidores da luta anti-capitalista. O problema é que não existe nenhuma revolução iminente, pois nas atuais sociedades capitalistas ocorreu a chamada "socialização da política", o que ampliou o poder político(que antes era limitado aos palácios) para a chamada "sociedade civil". Portanto não basta palavras de ordem "radicais", greves e manifestações para se desencadear um processo revolucionário, precisa-se antes disputar a hegemonia na sociedade. Caso os "troskos" lessem a obra de Gramsci, saberiam disso.

Eles não aceitam que na sociedade capitalista desenvolvida, a luta de classes assume uma complexidade bem maior do que na Rússia semi-feudal de 1917, não bastando convocar greves e manifestações para se dar início a uma revolução. Essa incapacidade dos trotskistas analisarem a realidade causa esse sectarismo doentio, que ao invés de fortalece-los, os atira no gueto, no isolamento.

Entretanto o mais trágico no trotskismo é que mesmo sendo anti-stalinista, defende o mesmo tipo de socialismo totaritário e burocratico. Em 1920, Leon Trotsky já defendia a militarização do trabalho e a estatização dos sindicatos, assim como uma política de industrialização acelerada baseada na expropriação do campesinato. Suas teses foram duramente criticadas por Lenin e derrotadas no congresso do partido onde foi aprovada a Nova Política Economica(NEP), proposta por Lenin.

"A discussão em torno do papel do Estado, sua relação com os sindicatos, a autonomia da classe operária, nada disso fora palavrório oco. Lênin, com a NEP, propunha agora um outro caminho, com maior liberdade para a cidade e o campo, recuperando o papel do mercado, compreendendo que o capitalismo ainda tinha fôlego para se desenvolver numa sociedade que ele acreditava estar caminhando para o socialismo. Trotsky tinha outra visão, que mais tarde, ironicamente, será integralmente adotada por seu mais visceral inimigo, Stalin. Está certo Deutscher quando afirma não haver praticamente nenhum aspecto do programa sugerido por Trotsky em 1920-21 que Stalin não tenha usado durante a industrialização acelerada da década de 1930. Adotou o recrutamento forçado, subordinou os sindicatos, estimulou a disputa de produção entre os trabalhadores, na linha do taylorismo soviético defendido por Trotsky."

(Emiliano José; em "Trotsky: do pomar para a Revolução")


Lenin se posicionou contra Trotsky, criticando a tese sobre a estatização dos sindicatos e sobre a militarização do trabalho.

"Trotsky foi o principal defensor da fusão dos sindicatos ao Estado e, inclusive, a sua militarização. Ele aplicou seus métodos "revolucionários" quando foi responsabilizado pela reorganização dos serviços de transporte. Assumindo o controle absoluto do Comitê Central de Transporte, decretou imediatamente "estado de emergência" nas ferrovias, destituiu os dirigentes eleitos dos sindicatos e colocou todos os operários sob lei marcial.

Em 16 de dezembro de 1919, Trotsky apresentou no Comitê Central do Partido Bolchevique a sua tese "Sobre a transição entre a guerra e a paz", na qual reafirmou a necessidade de militarização dos sindicatos russos. Ele defendeu novamente as suas posições no IX congresso do PCRb. Na ocasião afirmou ele: "As massas trabalhadoras não podem vaguear através da Rússia. Devem ser enviadas para aqui e para ali, nomeadas, comandadas exatamente como soldados (...) O trabalho obrigatório deve atingir a sua maior intensidade durante a transição do capitalismo para o socialismo (...) É preciso formar patrulhas punitivas e pôr em campos de concentração os que desertam do trabalho". E concluiu: "O Estado Operário possui normalmente o direito de forçar qualquer cidadão a fazer qualquer trabalho em qualquer local que o Estado escolha."

Contra as posições autoritárias de Trotsky, Lênin escreveu os artigos "Sobre os Sindicatos, o momento atual e os erros de Trotsky" e "Mais uma vez sobre os sindicatos, o momento atual e os erros dos camaradas Trotsky e Bukharin". Afirmou ele: "os sindicatos são uma organização da classe dirigente, dominante e governante. Mas não são uma organização estatal, não são uma organização coercitiva, são uma organização educadora, uma organização que atrai e instrui, são uma escola, escola de governo, escola de administração, escola de comunismo". Portanto, não poderiam ser transformados em quartel ou prisão.

Lênin negou a tese trotskista de que a defesa dos interesses materiais e espirituais da classe operária não deveria ser de incumbência dos sindicatos em um Estado operário. Para ele isto era um grave erro. Afirmou Lênin: "O camarada Trotsky fala de 'Estado operário'. Permitam-me dizer que isto é pura abstração (...) comete-se um erro evidente quando se diz: Para que e ante quem defender a classe operária, se não há burguesia e o Estado é operário? Não se trata de um Estado completamente operário, aí está o xis do problema (...) Em nosso país, o Estado não é, na realidade, operário, e sim operário e camponês (...) Porém há mais alguma coisa (...) nosso Estado é operário com uma deformação burocrática (...) Pois bem, será que diante desse tipo de Estado (...) nada têm os sindicatos a defender? Pode-se dispensá-lo na defesa dos interesses materiais e espirituais do proletariado organizado em sua totalidade? Essa seria uma opinião completamente errada do ponto de vista teórico (...) Nosso Estado de hoje é tal que o proletariado organizado em sua totalidade deve defender-se, e nós devemos utilizar estas organizações operárias para defender os operários em face de seu Estado e para que os operários defendam nosso Estado"".

(Augusto César Buonicore; em "Lenin, os sindicatos e o socialismo")


E foi justamente essa política defendida por Trotsky, e que Stalin adotou a partir de 1929, que resultou na construção de um socialismo degenerado, uma ditadura totalitaria responsável por alguns dos crimes contra a humanidade cometidos no século passado.

"Mas, já em 1929, (...) Stalin passa a implementar medidas de coletivização forçada da agricultura, apoiadas numa duríssima repressão contra os camponeses. Sabe-se hoje que essa política voluntarista e duramente coercitiva - que o próprio Stalin chamou de "revolução pelo alto" - levou à morte cerca de 10 milhões de camponeses. Por outro lado, a industrialização acelerada promovida pelos famosos planos qüinqüenais, embora tenha tido importantes resultados quantitativos, produziu fome e gerou opressão sobre os trabalhadores urbanos. Conheceu-se assim, na URSS dos anos 30, um período de intensa superexploração da força de trabalho, tanto camponesa quanto operária. Tudo isso levou à construção de um regime de terror na União Soviética: consenso e hegemonia, que ainda tinham alguma presença na sociedade soviética dos anos 20, cederam definitivamente lugar à coerção e ao despotismo." (Carlos Nelson Coutinho; em "Atualidade de Gramsci")

Nas eleições desse ano, o PCO lançou a candidatura de Ruy Costa Pimenta para presidente. Como sempre, lançam candidatura própria com o tipico discurso esquerdista(me refiro a doença infantil do comunismo), demonstrando todo o sectarismo e extremismo inconsequente dessa "seita troska". Já o PSTU, que é menos inconsequente, lançou a candidatura de José Maria de Almeida para presidente, e de Cyro Garcia para governador. Como manda o sectarismo "trosko", esse ano não formaram aliança com PSOL e PCB, como haviam feito em 2006.

2 comentários:

  1. Achei injusta a redução do PCO à posição acusada. Tenho achado esse partido muito mais comprometido com a viabilidade política contemporânea que os, esses sim!, PSOL e PSTU.
    Sério mesmo, não foi justo com o PCO colocá-lo no mesmo balaio, na minha opinião.

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