"Socialismo e liberdade"

"Socialismo e liberdade"
"Proletários de todos os países, uni-vos!" (Karl Marx e Friedrich Engels; Manifesto do Partido Comunista)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Marxismo

Os filósofos e revolucionários alemães Karl Marx e Friedrich Engels foram os fundadores do “socialismo científico”. Segundo eles, a história é movida pela luta de classes, ou seja, pela luta entre as classes dominantes e as classes dominadas. Por isso o feudalismo foi derrubado e substituido pelo capitalismo, quando a burguesia tomou o poder das garras dos antigos senhores feudais(nobreza e clero), através das revoluções liberais ocorridas nos séculos XVII e XVIII. No capitalismo, a luta de classes do proletariado contra a burguesia levaria a revolução socialista, com o proletariado tomando o poder e estabelecendo assim a ditadura do proletariado. A propriedade privada dos meios de produção, distribuição e troca seria abolida, sendo socializada pelo novo Estado proletário.

Karl Marx afirmava “que a luta das classes leva necessariamente à ditadura do proletariado”. Ele também dizia que “essa ditadura representa uma transição em direção à abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes”. (Carta de Marx a J. Weydemeyer, 5 de março de 1852). O proletariado deve estabelecer a sua ditadura para impedir uma contra-revolução burguesa e para garantir a destruição do capitalismo. O objetivo portanto é garantir a expropriação dos capitalistas e o processo de transformação revolucionária da propriedade privada sobre os meios de produção em propriedade social. Será preciso, então, sufocar a reação dos expropriados. Engels é muito claro a esse respeito: “somos obrigados a nos servir dele [o Estado] na luta, na revolução, para reprimir pela força os adversários”. (Carta de Engels a A. Bebel, 18-28 de março de 1875).

Essa ditadura do proletariado deveria garantir a mais ampla liberdade para os trabalhadores, e deveria ser temporária, uma vez que eliminada a propriedade privada, acabariam sendo eliminadas as classes sociais, e assim o Estado acabaria se tornando desnecessário. Todos seriam iguais e viveriam fraternalmente, em uma sociedade onde não mais haveria exploração do homem pelo homem.

Entretanto as revoluções socialistas ocorridas no século passado não concretizaram o projeto marxista, uma vez que os graves erros do leninismo(ou bolchevismo), degeneraram o marxismo. Ao reinterpretar a ditadura do proletariado como ditadura do partido do proletariado, Lenin e os bolcheviques descaracterizaram o pensamento marxista, originando o regime autoritario e burocratico de partido único que possibilitou o surgimento do stalinismo.

A esquerda infelizmente se recusa a fazer autocritica. Condena o stalinismo, mas limita e muito a critica ao bolchevismo. Se esquece da critica de Rosa Luxemburgo, revolucionária marxista polaco-alemã, que mesmo apoiando a Revolução de Outubro, não se deixou levar por uma visão acritica, beata e de sacristia sobre esse processo revolucionário. Ela criticou os desvios autoritarios promovidos pelos bolcheviques, alertando para as suas consequencias, no clássico “A Revolução Russa”, escrito em 1918.
“A liberdade apenas para os partidários do governo, só para os membros de um partido – por numerosos que sejam – não é a liberdade. A liberdade é sempre, pelo menos, a liberdade do que pensa de outra forma (…). Sem eleições gerais, sem uma liberdade de imprensa e de reunião ilimitada, sem uma luta de opinião livre, a vida acaba em todas as instituições públicas, vegeta e a burocracia se torna o único elemento ativo. [...] Se estabelece assim uma ditadura, mas não a ditadura do proletariado: a ditadura de um punhado de chefes políticos, isto é uma ditadura no sentido burguês”.

(Rosa Luxemburgo; em “A Revolução Russa”)


A esquerda precisa fazer autocritica e romper com a tradição autoritária do bolchevismo, resgatando o melhor do pensamento marxista na luta por um socialismo renovado. E precisa abandonar o dogmatismo, enxergando as novas realidades da luta de classes no século XXI.
“Socialismo não é um ideal ético ao qual tendemos para melhorar a ordem vigente. O socialismo é uma proposta de um novo modo de produção, de uma nova forma de sociabilidade, e nesse sentido eu acho que o socialismo é, mesmo no século 21, uma proposta de superar o capitalismo. Novidades surgiram, por exemplo: quem leu o Manifesto Comunista, como eu, vê que Marx e Engels acertaram em cheio na caracterização do capitalismo. A ideia da globalização capitalista está lá no Manifesto Comunista, o capitalismo cria um mercado mundial, expande e vive através de crises. Essa ideia de que a crise é constitutiva do capitalismo está lá em Marx. Mas há um ponto que nós precisamos rever em Marx, e rever certas afirmações, que é o seguinte: Quem é o sujeito revolucionário? Nós imaginamos construir uma nova ordem social. Naturalmente, para ser construída, tem que ter um sujeito. Para Marx, era a classe operária industrial fabril, e ele supunha, inclusive, que ela se tomaria maioria da sociedade. Acho que isso não aconteceu. O assalariamento se generalizou, hoje praticamente todas as profissões são submetidas à lei do assalariamento, mas não se configurou a criação de uma classe operária majoritária. Pelo contrário, a classe operária tem até diminuído. Então, eu diria que este é um grande desafio dos socialistas hoje. Hoje em dia tem aquele sujeito que trabalha no seu gabinete em casa gerando mais-valia para alguma empresa, tem o operário que continua na linha de montagem .. Será que esse cara que trabalha no computador em casa se sente solidário com o operário que trabalha na linha de montagem? Você vê que é um grande desafio. Como congregar todos esses segmentos do mundo do trabalho permitindo que eles construam uma consciência mais ou menos unificada de classe e, portanto, se ponham como uma alternativa real à ordem do capital?”

(Carlos Nelson Coutinho, em entrevista na Caros Amigos, dezembro de 2009)

A esquerda também precisa conciliar a luta pelo socialismo com a luta em defesa da ecologia e do desenvolvimento autossustentável, promovendo o ecossocialismo.

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