"Socialismo e liberdade"

"Socialismo e liberdade"
"Proletários de todos os países, uni-vos!" (Karl Marx e Friedrich Engels; Manifesto do Partido Comunista)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O terror stalinista

"Um olhar retrospectivo sobre o século passado não pode se omitir sobre o trágico legado do stalinismo. A esquerda em especial não tem o direito de ignorá-lo. Tal herança pesa como um fardo sobre ela, mesmo já havendo uma alentada produção teórica de condenação dos anos em que Stalin esteve à frente da URSS, principalmente após o final dos anos 20 e até sua morte, em 1953. (...)

Para a esquerda, é necessário resistir à tentação de refugiar-se num tempo de ouro, na nostalgia de um tempo feliz, que não existiu, ao contrário. O stalinismo foi um tempo de terror, de esmagamento dos adversários pela violência, marcado pela ausência da política, ao menos se esta for entendida como o reino da liberdade, e não da força bruta.

O stalinismo foi a maior tragédia do povo russo e de todo o povo do Leste Europeu, afora as guerras. Não podemos mais ter receio de afirmar isso. Havia um temor de que isso parecesse diminuir o mérito da resistência do povo soviético ao nazismo. Não diminui. Os vestígios de stalinismo, indícios que sejam, são nefastos, atentados a qualquer idéia de vida democrática."

(Emiliano José; O stalinismo e sua trágica herança)


O stalinismo foi a mais grave degeneração que o marxismo sofreu, transformando a União Soviética ou URSS, em uma ditadura totalitaria e burocratica responsável pela morte de 20 milhões de soviéticos. Também foi responsável pela morte de milhares de pessoas, nos países do Leste Europeu onde o Exército Vermelho estabeleceu regimes socialistas após a Segunda Guerra Mundial.

A filosofia marxista em momento algum defende regimes totalitarios e burocráticos(ditadura de partido único), muito menos culto a personalidade do lider, que eram caracteristicas do regime stalinista. O marxismo busca construir uma sociedade igualitaria onde não mais exista a exploração do homem pelo homem, uma sociedade onde as pessoas sejam realmente livres.

O STALINISMO

Josef Stalin era um revolucionário bolchevique e tornou-se secretário-geral do Partido Comunista da Rússia em 3 de fevereiro de 1922. Quando o lider do partido e do Estado soviético, o revolucionário Vladimir Lenin, sofreu o terceiro enfarte que o deixou incapacitado, em março de 1923, foi formado um triunvirato composto por Stalin, Grigory Zinoviev, e Lev Kamenev, que assumiu a direção do partido e do governo soviético. Após a morte de Lenin, ocorrida em 21 de janeiro de 1924, começou uma batalha feroz na burocracia do partido para se chegar a um sucessor. Por comandar a burocracia partidária, Stalin saiu na frente, e após derrotar Trotsky e afastar outros adversários dos principais postos de direção, assumiu o poder absoluto em 1928.

Stalin acabou com a Nova Política Economica e lançou o primeiro plano quinquenal nesse mesmo ano de 1928, com o objetivo de priorizar a rapida industrialização e "edificar o socialismo", passando para o Estado o controle de toda a atividade econômica. Toda propriedade dos meios de produção, distribuição e troca foi estatizada, sendo eliminado o mercado. Os sindicatos foram estatizados e o trabalho foi militarizado, promovendo assim a brutal exploração do operariado soviético. Também realizou a coletivização forçada na agricultura, que resultou na morte de 10 milhões de camponeses(executados por resistir a coletivização ou pela fome causada pela coletivização), e na deportação em massa de camponeses com suas famílias.

Nos anos 30, Stalin dedicou-se a consolidar seu poder pessoal. Tratou de expulsar toda a oposição política. Se alguém lhe parecesse indesejável, ele se encarregava de desacreditá-lo perante a opinião pública. Em 1934, Sergei Kirov, principal líder do Partido Comunista em Leningrado - e tido como possível sucessor de Stalin - foi assassinado por um anônimo, Nikolaev, de forma até agora obscura; muitos consideram até hoje que Stalin não teria sido estranho a este assassinato. Seja como fôr, Stalin utilizou o assassinato como pretexto imediato para uma série de repressões que passaram para a história como o "Grande Expurgo".

Stalin fez prender ou matar cerca de dois terços do Comitê Central do Partido Comunista da URSS eleito no Congresso de 1934. E mais, eliminou toda a "velha guarda" bolchevique, como os revolucionários Nikolai Bukharin, Grigory Zinoviev, e Lev Kamenev(a família de Kamenev também acabou executada, só um de seus filhos sobreviveu aos expurgos do governo Stalin). Leon Trotsky, expulso da URSS em 1929, foi assassinado por um agente stalinista em 1940, no México, onde se encontrava exilado. O filho de Trotsky, Leon Sedov, também foi assassinado por um agente stalinista em Paris. Karl Radek foi preso em 1936, e morreu na prisão em 1939.

Stalin também liquidou cerca de 5.000 oficiais do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco estrelas do Exército Vermelho – criado durante a Revolução Russa por Leon Trotsky, seu dissidente mais conhecido – e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo".

"É provável que a dimensão desse violento expurgo se devesse a um acerto de contas de Stalin com Trotsky, visto que foi o seu rival quem forjou o Exército Vermelho durante a guerra civil de 1918-21. O objetivo final seria a stalinização total da organização militar, que até então ficara fora dos expurgos que abateram o partido e a polícia secreta ao longo dos anos trinta." (Robert Conquest - O Grande Terror, pag. 478-9)

Se não bastasse isso, o stalinismo ainda colaborou com os nazistas no começo da Segunda Guerra Mundial.

Em agosto de 1939, a URSS assinou um pacto de não agressão com a Alemanha nazista. Nesse pacto haviam clausulas secretas, que dividiam o Leste Europeu entre as duas nações. Tanto é verdade que em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polónia, motivo pelo qual dois dias depois, Reino Unido e França declararam guerra a Alemanha, dando início a Segunda Guerra Mundial. E em 17 de setembro de 1939, a URSS invadiu a Polónia, jogando uma pá de cal nas esperanças polonesas de resistir a agressão nazista. No começo de outubro, a Polónia se rendeu, e os exércitos alemães e soviéticos marcharam juntos como aliados nas cidades polonesas. A parte oeste da Polónia foi anexada a Alemanha, acabando com o chamado "corredor polônes". A parte leste da Polónia foi anexada a URSS, e o que restou do território polônes ficou sobre ocupação alemã, constituindo o Governo Geral da Polónia.

Após partilhar a Polónia com os nazistas, os stalinistas deram continuidade a sua política imperialista, segundo os princípios estabelecidos pelo Pacto Germano-Soviético de Não Agressão. Em outubro de 1939, a URSS exigiu que Finlandia, Lituânia, Letônia, e Estônia aceitassem que bases militares soviéticas fossem estabelecidas em seus territórios. Com excessão dos finlandeses, os outros países se curvaram e aceitaram as exigências soviéticas.

Em 30 de novembro de 1939, a URSS invadiu a Finlandia, uma vez que esse país se recusou a dobrar seus joelhos ao imperialismo soviético. Os soviéticos criaram um governo fantoche na vila fronteiriça finlandesa ocupada de Terijoki (agora Zelenogorsk), a República Democrática da Finlándia, liderada pelo comunista Otto Ville Kuusinen, pois pretendiam conquistar a Finlándia. Entretanto os soviéticos foram surpreendidos pela brava resistência finlandesa, que causou pesadas baixas entre os agressores, detendo o seu avanço. Mas infelizmente os finlandeses não tinham como vencer, então em 12 de março de 1940, se renderam e firmaram um tratado de paz que deu fim a guerra. A Finlándia foi obrigada a ceder a região da Carélia, a região de Salla e a península de Kalastajansaarento, mas ao menos manteve a sua independencia. Morreram cerca de 27 mil soldados finlandeses e 127 mil soldados soviéticos.

Entre 14 e 17 de junho de 1940, a URSS invadiu a Lituânia, a Letônia, e a Estônia, que eram países independentes desde 1918. Em agosto, os soviéticos anexaram esses três países, que se tornaram então repúblicas soviéticas. Os EUA e a Grã Bretanha não reconheceram a anexação desses países, mas nada fizeram contra o domínio soviético imposto sobre eles.

Em junho de 1940, a URSS também invadiu a região da Bessarábia, que pertencia a Roménia. Em agosto, os soviéticos anexaram essa região, que passou a constituir a República Socialista Soviética da Moldávia.

Na segunda metade de 1940, os alemães estabeleceram governos fantoches na Hungria, Bulgaria, e na Romênia, realizando assim a partilha do Leste Europeu conforme estabelecido nas clausulas secretas do pacto de 1939.

Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista invadiu a URSS, rompendo o pacto de 1939, o que colocou os soviéticos na guerra contra o nazi-fascismo. Os soviéticos tiveram um importante papel na derrota dos nazi-fascistas, detendo o avanço alemão e lançando uma contra-ofensiva arrasadora. Os soviéticos expulsaram os alemães em 1944, avançando pelo Leste Europeu até conquistar Berlim em 2 de maio de 1945. A Alemanha nazista se rendeu seis dias depois.

Após a vitória na Segunda Guerra Mundial, Stalin exportou o socialismo para o Leste Europeu, para os países libertados pelo Exército Vermelho. Além disso, os comunistas também chegaram ao poder na Albânia e na Iuguslávia, onde guerrilhas comunistas expulsaram os invasores alemães e italianos. Devido a essa expansão do socialismo, os soviéticos fundaram o Cominform em 1947. Ao contrário do que afirmava Trotsky, a política do "socialismo em um único país" defendida por Stalin, não significava que o socialismo ficaria restrito a URSS, muito menos significava a recusa da burocracia stalinista em exportar a revolução. O problema da política do "socialismo em um único país" foi o fato de Stalin ter a usado com um claro desvio nacionalista, pois os partidos e movimentos comunistas tiveram que ficar subordinados a URSS, tanto que a Iuguslávia foi expulsa do Cominform em 1948, pelo fato de Tito ter se recusado a ser um simples fantoche de Stalin. Isso acabou em definitivo com o internacionalismo proletário, defendido pela filosofia marxista.

O stalinismo promoveu o culto a personalidade do lider do partido comunista. O culto a Stalin podia ser observado nas diversas estátuas do ditador espalhadas por toda a URSS e pelos países do Leste Europeu onde o regime socialista foi imposto pelos soviéticos. Chamado de "guia genial dos povos", Stalin era exaltado em todos os livros e artigos publicados, e os cartazes de propaganda do governo soviético sempre traziam frases do tipo: "Trabalhe duro, como ensina Stalin". Em 1925, a cidade de Tsarítsin foi rebatizada como Stalingrado, em homenagem ao secretário geral do Partido Comunista da URSS, pelo fato de a frente do Exército Vermelho, ter derrotado nessa cidade, em 1920, as tropas do Exército Branco comandadas pelo general Anton Denikin.

Josef Stalin morreu em março de 1953. Seu corpo foi embalsamado e colocado ao lado do corpo de Lenin, no mausoléu da Praça Vermelha. Entretanto o seu sucessor no cargo de secretário geral do Partido Comunista da URSS, Nikita Kruschev, denunciou o "culto a personalidade" de Stalin e os crimes promovidos durante a época stalinista, no XX Congresso do partido, realizado em fevereiro de 1956. Tinha início a desestalinização, que não democratizou a URSS, mas ao menos deu fim ao terror monstruoso e desumano da era stalinista.

O corpo de Stalin foi retirado do mausoléu e enterrado próximo ao Kremlin. A cidade de Stalingrado foi rebatizada como Volgogrado e a maior parte das estátuas e cartazes de Stalin foram removidas. As que permaneceram acabaram vindo abaixo com a queda do "socialismo real" em 1991.

Após a desestalinização promovida por Nikita Kruschev, o principal defensor do stalinismo foi o ditador da Albânia, Enver Hoxha, que liderou em seu país a resistência contra os invasores italianos e alemães na Segunda Guerra Mundial, e após a derrota dos invasores, estabeleceu uma ditadura stalinista na Albânia. Hoxha rompeu com a Iuguslávia de Tito em 1948, devido a oposição de Tito ao stalinismo. Com a desestalinização promovida por Kruschev, Enver Hoxha rompeu com a URSS em 1956, se aliando a China de Mao Tsé-tung.

A ditadura hoxhista era bizarra, pois proibia a prática pública de qualquer manifestação religiosa, e o uso de automóveis particulares pelos cidadãos, assim como permitia apenas a leitura de livros e textos de Marx, Engels, Lenin, Stalin, Mao, Enver Hoxha, e os textos escritos pelos burocratas do Partido do Trabalho e de partidos estrangeiros aliados. O culto a personalidade de Enver Hoxha levou a construção de uma gigantesca estátua do ditador, na capital Tirana.

A China se posicinou contra a desestalinização, motivo pelo qual os stalinistas se aproximaram do maoismo. Mao até reconheceu que Stalin cometeu "alguns erros", mas não os crimes que foram denunciados por Kruschev. Segundo Mao, os soviéticos estavam promovendo um "revisionismo", motivo pelo qual começou a critica-los. Após a morte de Mao, os chineses romperam com o maoismo, então a Albânia rompeu com a China e se isolou do mundo. Quando a ditadura albanesa caiu, em 1991, o país era o mais pobre da Europa. Junto com a ditadura, caiu também a gigantesca estátua de Enver Hoxha.

O stalinismo tornou-se a antítese do marxismo, pois ao invés de buscar eliminar a divisão da sociedade em classes sociais, gerou uma casta privilegiada de burocratas que explorava o proletariado e o campesinato, destruindo o socialismo por dentro.

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