"Socialismo e liberdade"

"Socialismo e liberdade"
"Proletários de todos os países, uni-vos!" (Karl Marx e Friedrich Engels; Manifesto do Partido Comunista)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A barbárie maoista



Ao reinterpretar o marxismo-leninismo para a realidade chinesa, Mao Tsé-tung(também chamado de Mao Zedong) cometeu um grave erro. A classe operária era praticamente inexistente, uma vez que a sociedade chinesa sequer havia passado pelo capitalismo primitivo que a Rússia czarista havia passado, tanto que não havia nem mesmo um poder centralizado, que estava dividido entre os chamados "senhores da guerra", e o país entregue ao banditismo. Somente quando o Kuomitang tomou o poder em 1928, após seu exército derrotar os exércitos dos "senhores da guerra", é que o poder político foi reunificado. Portanto era impossível construir o socialismo diante dessa realidade.

Mao defendeu o caráter revolucionário do campesinato, desenvolvendo a teoria da "Guerra popular prolongada", onde a luta armada desencadeada no campo, levaria ao cerco das cidades e a vitória da revolução. Era uma teoria militarista que em hipótese alguma possibilitaria o surgimento de uma democracia socialista após a vitória da revolução, e como Mao absorveu a teoria marxista-leninista principalmente a partir dos manuais soviéticos da era stalinista, somado ao apoio que a URSS stalinista concedeu a China maoista, era evidente que o maoismo se tornaria como realmente se tornou, na versão chinesa do stalinismo.

A guerra civil começou em 1927, após o Kuomitang romper a aliança com os comunistas e massacrar militantes comunistas que tentaram desencadear uma greve geral em Xangai. Mao promoveu então uma rebelião camponesa em Hunam, que mesmo derrotada serviu como embrião do Exército Vermelho, a guerrilha comunista que a partir de 1928, luta contra as tropas do Kuomitang, que havia tomado o poder nesse mesmo ano ao capturar Pequim. Nos anos 30, os comunistas ganham terreno e o exército comandado por Mao torna-se uma autêntica força militar.

Em 1937, os japoneses invadiram a China, o que obrigou aos exércitos do Kuomitang e dos comunistas promoverem uma trégua para combater o invasor. Mas terminada a Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos japoneses, tem reinicio a guerra civil. Em 1949, os comunistas que haviam rebatizado o seu exército como Exército de Libertação Popular, derrotam as tropas do Kuomitang, que se retiram para Taiwan. Então em 1 de outubro de 1949, Mao Tsé-tung proclama a República Popular da China, um país socialista com capital em Pequim.

"A construção do socialismo chinês recebeu inicialmente um valioso apoio da URSS. A ajuda soviética veio em forma de assessoramento técnico, científico e, principalmente, financeiro. Entre 1950 e 1956, a assistência soviética contribuiu decisivamente para a recuperação e posterior desenvolvimento da economia chinesa." (Renato Cancian; em "Conflito entre China e URSS e o Grande Salto")

Assim como o stalinismo na URSS e no Leste Europeu, o regime maoista promoveu crimes hediondos contra a humanidade. Somente nos seus primeiros anos, a ditadura maoista executou cerca de três milhões de chineses. E pior, no final dos anos 50, devido ao fracasso do "Grande salto para frente", morreram mais de 30 milhões de camponeses, vitimados pela fome. E se não bastasse isso, ainda teve a "Revolução Cultural" no final dos anos 60, onde morreram cerca de 1 milhão de chineses e outros milhões foram presos, torturados e humilhados, o que fez dessa política uma verdadeira barbárie.

"O Grande Salto tinha como premissa a mobilização de todos os recursos humanos da China, em particular da massa camponesa, que constituía cerca de 80% da população, a fim de acelerar o desenvolvimento econômico e a igualdade entre todos num curto período de tempo. Ironicamente, porém, o Grande Salto foi um desastre completo, que levou à desorganização da economia chinesa e ao aumento da fome no campo, acarretando a morte de milhões de camponeses.

O núcleo do projeto desenvolvimentista era a auto-suficiência e a auto-sobrevivência, ou seja, cada vilarejo deveria produzir os alimentos e os bens necessários. A obsessão para atingir metas de produção, porém, levou os dirigentes chineses a dispensarem o conhecimento técnico e o planejamento antecipado, precipitando o surgimento de problemas insolúveis para o país.

As minas de carvão que se proliferaram por todo o país arruinaram os campos férteis; o cultivo irregular de determinados grãos e alimentos ocasionaram o cansaço do solo; a construção de represas sem o devido planejamento e estudo técnico arruinou os solos, tornando-os imprestáveis para o cultivo; as máquinas agrícolas careciam de peças de reposição, entre inúmeros outros problemas." (Renato Cancian; em "Conflito entre China e URSS e o Grande Salto")


Caso tivesse sido obra de alguma ditadura de direita, com certeza a esquerda estaria colocando o Grande Salto como um exemplo da barbárie capitalista. Entretanto, como foi obra da ditadura maoista, a esquerda se limita a qualificar o Grande Salto como um "erro trágico".

O desastre econômico e social provocado pelo Grande Salto a Frente, gerou conflitos internos de grandes proporções no PCCh - Partido Comunista Chinês, abrindo caminho para a perda de poder de Mao Tsé-tung. Para recuperar a economia, os novos dirigentes do Estado socialista chinês reavivaram alguns princípios característicos do sistema capitalista, como por exemplo, recompensas por esforços no trabalho. Eles também desmontaram as comunas rurais e readotaram o gerenciamento técnico na condução da produção econômica.

Entretanto Mao Tsé-tung não perdeu o poder por completo. Ele manteve-se como líder supremo do Exército de Libertação Popular (ELP) e, com o apoio dos militares e de facções políticas atuantes dentro do PCCh, Mao retomou as rédeas do Estado chinês, reconduzindo a seu modo a construção do socialismo.

"Mao deflagrou, em 1965, a contra-ofensiva sobre as facções políticas rivais dentro do PCCh que controlavam o Estado chinês. Ele criticou ferozmente aqueles que preconizavam a readoção de alguns princípios capitalistas na economia. Mao também defendeu a transferência do controle da Revolução para as mãos das massas (camponeses e operários), sob coordenação do Partido, como forma de avançar na construção de um sistema socialista próximo da igualdade absoluta. Para atingir esses objetivos, Mao Tsé-Tung decidiu aplicar ao conjunto da sociedade chinesa um vasto programa de educação política, seguindo o modelo aplicado ao ELP.

A Revolução Cultural começou oficialmente no outono de 1965. Com apoio do ELP, Mao e seus seguidores coordenaram um amplo expurgo que atingiu todas as esferas da vida social, política e econômica. Membros do PCCh, burocratas, políticos, militares e cidadãos comuns foram atingidos por uma onda repressiva.

A esposa de Mao, Jiang Qing, se transformou na figura dominante nas artes. Chamada de ditadora cultural, Qing exerceu domínio absoluto e determinou o que podia ser escrito, pintado, editado, cantado e exibido nos teatros e cinemas. Muitos cursos universitários foram fechados, professores e diversos profissionais ligados à produção artística perderam seus cargos e foram banidos para o campo.

Os alvos principais da doutrinação política que permeava a Revolução Cultural foram os jovens, em particular os estudantes de nível médio e universitário. Os jovens foram dispensados das aulas e o Estado providenciou alimento, transporte e alojamento para que percorressem o país, de cidade em cidade, como aguerridos militantes de esquerda.

Usando uma braçadeira vermelha em um dos braços, milhões de jovens formaram a Guarda Vermelha. A base doutrinária para a ação dos militantes era o célebre "Livro Vermelho" de Mao.

Um dos trechos do livro dizia: "O pó se acumula se um quarto não é limpo com freqüência, nossas faces ficam imundas se não forem lavadas com freqüência. A mente de nossos camaradas e o trabalho de nosso Partido também podem ficar empoeirados e também precisam ser varridos e lavados. O provérbio 'a água corrente nunca fica choca e os vermes nunca roem uma dobradiça' significa que o movimento constante impede a contaminação pelos germes e outros organismos".

Os militantes da Guarda Vermelha tinham por encargo desfechar a crítica aos revisionistas, aos direitistas, aos burgueses, aos burocratas do Partido e do Estado e até mesmo àqueles que adotavam estilos ocidentais de comportamentos. Além da crítica, eles também humilhavam e castigavam todos que resistiam à doutrinação socialista.

Durante o período em que a Guarda Vermelha atuou, a sociedade chinesa foi abalada por perseguições, execrações e julgamentos sumários em praças públicas. A Guarda Vermelha cometeu muitas atrocidades e espalhou o terror pela China. Também ocorreram muitos conflitos, alguns deles de grande proporção, principalmente no final da década de 1960, envolvendo militantes extremistas da Guarda Vermelha e as massas." (Renato Cancian; em "O Livro Vermelho de Mao e a Revolução Cultural")


A "Revolução Cultural" foi uma verdadeira barbárie. Os guardas vermelhos mataram no mínimo, cerca de um milhão de chineses. E as vitimas eram intelectuais e membros do próprio partido comunista. Além disso também teve os outros milhões de torturados, humilhados, etc.

"No início dos anos 70, a selvageria e desordem provocadas na sociedade chinesa pela atuação dos militantes da Guarda Vermelha trouxeram enormes problemas políticos para Mao. No seio do ELP e do PCCh surgiram críticas cada vez mais contundentes diante do caos e descontrole social e político provocados pelas ações da Guarda Vermelha.

Mao se curvou aos críticos e ordenou o desmonte da Guarda Vermelha e a desmobilização e dispersão dos 18 milhões de jovens. Gradualmente, Mao reconduziu a política chinesa de volta ao centro e reconheceu a necessidade do Estado e da nação chinesa de contar com o apoio de todos os cientistas, técnicos especializados, administradores e educadores que haviam sido purgados e exilados." (Renato Cancian; em "Deng Xiaoping promove reformas econômicas")


O pior de tudo é que Mao promoveu toda essa barbárie para recuperar o poder absoluto, usando como arma a critica contra supostos desvios direitistas existentes no PCCh e na sociedade. E quem realmente promoveu esses desvios foi ele próprio, ao se aproximar dos EUA nos anos 70, após quase ter desencadeado uma guerra contra os soviéticos.

Enquanto as bombas assassinas do imperialismo yankee caiam sobre o Vietnã, o Laos, e o Camboja, Mao Tsé-tung recebia o presidente Richard Nixon de braços abertos em Pequim, em 1972. Mao, que acusava os soviéticos de "revisionistas" em virtude da política de coexistência pacífica promovida por Kruschev a partir do XX Congresso do Partido Comunista da URSS, fez pior, pois enquanto os soviéticos apoiavam o governo comunista do MPLA, em Angola, Mao Tse-tung apoiava os rebeldes da UNITA, que também recebiam o apoio do imperialismo yankee e do regime racista do Apartheid sul africano. E mais, a China maoista não condenou o golpe contra Salvador Allende, no Chile, chegando inclusive a apoiar a ditadura do general Augusto Pinochet.

"Nos anos 70, a China se aproximou dos EUA. O presidente Nixon foi recebido com pompa por Mao e o governo chinês se alinhou sistematicamente ao imperialismo norte-americano, sob a justificativa de que a URSS representaria uma ameaça maior aos interesses do país. Isso fez com que a China chegasse ao absurdo de apoiar o ditador chileno Augusto Pinochet, uma vez que o governo de frente popular de Salvador Allende possuía boas relações com a URSS."

(Rodrigo Ricupero; em "Os 40 anos da Revolução Cultural Chinesa")


Durante a "Revolução Cultural", a religião foi proibida. Igrejas cristãs, mesquitas muçulmanas e templos budistas, confucionistas e taoistas foram destruidas, transformadas em oficinas ou museus. Religiosos foram presos, torturados e até mesmo assassinados, principalmente durante a época dos guardas vermelhos. A "Revolução Cultural" terminou oficialmente em 1976, ano em que Mao Tsé-tung morreu. Seus sucessores reconheceram que erros foram cometidos, criticando duramente a "Revolução Cultural", que foi considerada como um "desvio esquerdista". A viúva de Mao junto com outros 3 dirigentes foram presos, sendo condenados como responsáveis pelos crimes cometidos durante essa época.

A ditadura maoista matou cerca de 70 milhões de chineses, promovendo um genocidio superior ao promovido pelo stalinismo e até mesmo pelo nazi-fascismo. Portanto é evidente que o maoismo precisa ser combatido, assim como o stalinismo.

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